Recebo de um amigo o vídeo do Fantástico sobre "gente que vive com pouco dinheiro". O tema, na verdade, é Simplicidade Voluntária, uma ideia que não é nova lá fora, mas que parece chegar só agora ao Brasil. E, como acontece toda vez que a gente se vê diante de uma boa ideia, dá vontade mesmo de dizer: "que fantástico!"
Nos EUA, capital planetária do consumismo e dos exageros, viver com pouco, reduzir drasticamente o consumo e pensar simples virou um estilo de vida. Mas, antes de você se levantar indignada, com mais uma dessas "americanicices"(?), saiba que ESSA ideia eles não inventaram. Os gregos, acredite, já sonhavam com uma vida menos ávida e mais próxima da natureza. Mais perto aqui dos nossos tempos conturbados, um dos grandes defensores da frugalidade foi Henry David Thoreau, escritor americano que viveu no final do século 19 e publicou um livro, Walden, criticando o materialismo da sociedade americana e pregando a necessidade de uma vida mais simples e próxima da natureza.
Em 1981, Duane Elgin, outro americano, deu um formato moderno e bem pragmático para a poesia de Thoreau e escreveu o livro Simplicidade Voluntária, em busca de um estilo de vida exteriormente simples, mas interiormente rico. Fundamental para a gente que quer aprender a integrar a vidinha urbana e corrida com nossas necessidades interiores de calma, tranquilidade e comunidade verdadeira e bem concreta com a Natureza.
Viu só? Tem mesmo muita gente tentando dar forma a uma nova ética humana que fale de fraternidade e comunhão, de responsabilidade de todos por todos, de compaixão e de um futuro para todos e não apenas para alguns de nós, justamente aqueles ávidos frequentadores de shopping centers.
Ninguém está propondo que você viva em retiro espiritual ou na mais absoluta pobreza. "A pobreza é involuntária e debilitante, a simplicidade é voluntária e mobilizadora", adverte Duane Elgin.
Viver voluntariamente de maneira mais simples significa deliberadamente organizar sua vida de modo a torná-la mais frugal exteriormente e mais rica e abundante interiormente. É tirar o excesso de peso da bagagem para tornar a viagem por esse mundo mais leve, mais limpa, mais solta. Na prática, significa ter mais tempo para você e descobrir aquilo que realmente é importante na sua vida. Apenas o essencial.
Simplicidade Voluntária não é uma fórmula mágica, é um caminho, e nem sempre fácil. Mas a gente deveria colar na porta da geladeira, escrito em letras garrafais, esse conselho de Duane Elgin:
"Trabalhe para desenvolver todas as suas potencialidades: físicas (correr, andar de bicicleta, caminhar); emocionais (descobrir aquelas habilidades fundamentais numa relação, como intimidade e senso de comunhão); mentais (engajar-se em projetos para toda a vida, como ler, fazer cursos etc.); e espirituais (por exemplo, aprender a se mover através da vida com a mente quieta e o coração cheio de compaixão)."
Selecionei do livro Simplicidade Voluntária dez dicas para tirar o pé do acelerador. São encantadoras e... simples:
- Pare de fazer milhões de coisas ao mesmo tempo, começando por não dirigir e falar no celular ao mesmo tempo.
- Invista tempo e energia em atividades descomplicadas como andar de bicicleta, ler ou preparar um lanche, com seu companheiro, seus filhos ou seus amigos.
- Deixe a secretária eletrônica fazer seu trabalho. Obrigue-se a não atender o telefone no meio da refeição, por exemplo.
- Quando adquirir algum produto, prefira aqueles duráveis, de fácil manutenção, não-poluidores, funcionais e estéticos.
- Desenvolva sua compaixão. Interesse-se por movimentos em favor das pessoas carentes, da preservação das matas e dos animais e da não-violência.
- Fique meia hora por dia sem fazer nada. Relaxe e deixe sua mente divagar. Envolva-se nesse momento, como se ele fosse o último ou o primeiro da sua vida.
- Usufrua do prazer simples que trazem as formas não-verbais de comunicação: o silêncio cúmplice, abraços e beijos, olhos que falam.
- Imagine que você e a Terra são uma coisa só. Deixe que esse sentimento penetre em você e se traduza em mais carinho e cuidado com o planeta.
- Ouça música, mantenha um diário, divirta-se com o cachorro, escreva para alguém querido, alimente os pássaros.
- Desligue a TV. Por algumas horas, ao menos. E nunca, nunca, permita que ela assista às suas refeições.
Adília Belotti.