A partir do dia em que a Sede Geral da Sociedade Teosófica foi transferida da América para Bombaim, na Índia, em 1879, os seus fundadores foram constantemente acusados de fraude por afirmarem a existência de Mahatmas e de Iniciados, munidos de poderes ocultos e outras forças similares. O ceticismo com relação a esses pontos, não se limitou somente às pessoas que não pertenciam à Sociedade Teosófica; a maioria de seus membros recusou-se a crer, ou absteve-se de se posicionar sobre a existência da Grande Fraternidade Branca Universal e sobre o fato de que alguns membros dessa Fraternidade foram os verdadeiros fundadores da Sociedade Teosófica, e que, mesmo após sua fundação, continuaram sendo seus Guias invisíveis.
As pessoas que formavam o limitado número de membros da Sociedade Teosófica, que se incorporou à sua Seção Esotérica, demonstrando assim sua crença nesses pontos, foram consideradas muito crédulas e que se deixaram enganar pela Srª Besant, a Diretora Externa dessa Seção. Que poderia ganhar uma pessoa altruísta como ela, cujo passado inteiro demonstra devoção absoluta ao que tinha como verdade, tentando enganar aos outros, vai além da nossa compreensão! Nossa intenção não é apenas fazer sua defesa, mas também chamar a atenção para outra Organização distinta da Escola Esotérica da Teosofia. Referimo-nos a uma antiga Organização que há muito tempo tem propósito similar ao da Seção Esotérica da Teosofia. Nós o fazemos agora, porque é desejo dos dirigentes ocultos da Hierarquia que a existência de Sua Organização seja mais amplamente conhecida do que tem sido até o presente momento. Pela informação que temos em nosso poder, não existe a menor dúvida de que esses dirigentes ocultos pertencem à Excelsa Fraternidade Branca Universal, cujo único interesse é o bem-estar da humanidade.
Essa Organização possui duas seções: Dakshinamukha e Uttaramukha1 . A seção Uttaramukha, para a qual desejamos direcionar nossas observações, refere-se a Aryavarta, ou à Índia. Essa seção corresponde ao sistema Vaidika, mediante o qual se outorga treinamento yóguico de acordo com métodos imemoráveis. O treinamento dura a vida toda. Aqueles que se submetem a ele passam a fazer parte em um dos quatro grupos seguintes: os da classe inicial são denominados Dasas; os que prosseguem no sistema de aperfeiçoamento são os Tirthas; os seguintes são os Brahmas; e os que alcançam os mais altos graus chegam a ser Anandas2.
Ao ser admitido numa dessas classes, é outorgado um nome ao discípulo, formado por uma ou várias letras, de forma que sua identidade ficará desconhecida pelo público. O período de disciplinas e instrução fixado para cada classe é de 24 anos. Esse lapso de tempo é dividido em três períodos de sete anos, dedicados a treinamento específico em cada um. Os três anos restantes têm o propósito de recapitular e assimilar o treinamento dos três períodos precedentes. Não há em todo curso da disciplina nenhuma prática de Hatha Yoga, qualquer que seja. A disciplina é inteiramente mental e meditativa. Nele há insistência pela mais elevada pureza de vida e de caráter, devendo o discípulo esforçar-se em alcançar total castidade no transcurso dos primeiros três anos e meio do primeiro período, na classe menos elevada (Dasa), onde ainda é permitida a vida conjugal. Não é de se estranhar que, com tais restrições, sejam, em realidade, poucos os aspirantes a esse grau de treinamento. Em toda Índia, no presente, o número deles é diminuto.
A Presidência da seção de Madras, na Índia, faz parte de uma divisão que forma um triângulo com o Cabo Camorim ao Sul, Gokurnam ao Oeste e Bengala ao Nordeste. Nessa divisão há seis representantes da Organização, por meio dos quais se pode obter a admissão, com permissão dos Mestres (Oficiais Superiores). Tal admissão somente acontece depois que o candidato tenha sido examinado ocultamente por esses Oficiais. Obviamente o exame acontece invisivelmente. O tempo e o espaço não são obstáculos para que Eles examinem os corpos sutis dos candidatos e suas vidas anteriores.
Aqueles que tenham a ventura de serem admitidos na Organização não terão necessidade de esperar muito, nem pelas provas relacionadas aos poderes ocultos que possuem os seus Superiores, nem pela comprovação da possibilidade de que, a seu devido tempo, as pessoas que cumpram o treinamento preparatório adquiram capacidades e faculdades ausentes nos homens comuns. O poder da transmissão do pensamento entre os discípulos que estão seguindo o mesmo treinamento e, entre os mesmos e os oficiais superiores da Organização, é adquirido em um ano ou dois, a contar da data de admissão, sempre, é claro, que nesse intervalo o discípulo tenha seguido fielmente o modo de vida indicado e a meditação prescrita. Alcançado tal estágio o estudante pode obter conselhos e ser dirigido por seus Superiores. Por exemplo, se tal discípulo escreve uma pergunta em um pedaço de papel, poderá encontrar a resposta imediatamente, ou, no mais tardar, dentro de três dias, no mesmo pedaço de papel, sem que este tenha sido retirado de seu bolso.
Da mesma forma, no caso da Seção Esotérica da Sociedade Teosófica, os seus membros estão sob promessa de guardar segredos de certos assuntos que são, todavia, muito poucos. Isso está estabelecido no Livro de Instruções que é entregue a cada candidato ao ser admitido, e recebe o nome de Anushtana Chandrika.
Como já dissemos, apesar do treinamento basear-se inteiramente em Suddha Raja Yoga, é necessário observar certos ritos muito simples em determinadas ocasiões, na forma de oblações pelo fogo ou pela água. A quinzena que termina com a lua cheia de Vaishak (maio) é, por exemplo, um período de estrita observação de tais ritos. Escolheu-se particularmente esse período porque é no dia da lua cheia de maio que a Fraternidade Branca outorga bênçãos especiais ao mundo, por isso é esperado que os membros da Organização, nessa ocasião, façam preparativos e adotem atitude o mais receptiva possível, para que se habilitem a receber as bênçãos que Eles enviam. Todos os membros sabem que a Fraternidade envia Suas bênçãos, tal como está escrito no seguinte verso, que se encontra no livro intitulado Anushtana Chandrika3:
“Vishale Badari Khande Mahatmano Haitaishinaha;
Vaishak Purnimayamtu Kurvanti Yagnan-Mandalam”.
“Na região de Visala, em Badari, os Mahatmas, atentos ao bem-estar da humanidade, no dia de lua cheia, no mês de Vaishak, outorgam bênçãos ao mundo”.
Referimo-nos a este particular para demonstrar aos membros da Seção Esotérica da Sociedade Teosófica que eles não são os únicos conhecedores de que no dia da lua cheia mencionado, os Grandes Seres reúnem-se para enviar fortes emanações de força espiritual para a proteção e elevação de todos os seres. Esperamos que tudo o que foi expresso nesse artigo sirva para restabelecer a imemorável e antiga verdade que é a existência de uma Organização Esotérica na Índia, através da qual pode ser obtido elevadíssimo treinamento em Yoga, aberto aos aspirantes que almejam trilhar, sob infalível direção, o Augusto Caminho.
Podemos assegurar que nos foi permitido levar ao conhecimento de um dos Mestres, da citada Organização, os nomes daqueles que queiram converter-se em candidatos para tal treinamento, sem consideração de casta4, credo ou sexo. O passo seguinte, após a admissão, será da incumbência direta entre o candidato e o oficial da Organização que estiver devidamente qualificado para empreender e dirigir o treinamento do aspirante.
Sri Subrahmanyananda
Notas
- Dakshinamukha é a seção meridional da Organização ou Divisão Sul. São requisitos essenciais dessa Divisão o conhecimento dos princípios fundamentais do Suddha Dharma Mandalam e o serviço ativo em benefício do mundo. Uttaramukha é a seção setentrional do Mandalam. Nela, apesar de ritos e cerimoniais serem muito importantes, e também o uso constante de sílabas místicas e mantras, não pode haver descuido quanto ao dever de servir a todos os seres.
- Todas essas Iniciações, com excessão da primeira (Dasas) e da segunda (Tirthas), são outorgadas, atualmente, pelos Mestres ocultos, quando o discípulo encontra-se preparado para recebê-las.
- Anushtana Chandrika, também chamado de Sanátana Dharma Dipika é o livro de referência para os estudantes Suddhas. Nele estão dispostos vários ensinamentos e normas de conduta sobre a Lei Eterna. Em sua segunda parte, que contém quatro capítulos, está descrito tudo o que deve aprender um Dasa e um Thirta.
- O sistema de castas ainda era oficial, na Índia, na época da redação desse artigo.