Manual do Renunciante

O Bhagavad Gita nos ensina que a quase totalidade dos seres humanos não conhece o funcionamento do processo eterno do mundo, e que somente se pode obter esse conhecimento através da Renúncia e da Entrega (Sanyasa e Tyaga). Ensina que a Busca Suprema deve ser iniciada por meio desse sublime conhecimento (Gita VII,12).

Parte I

Introdução


Sri Jarnadana, no artigo em que comenta o SANÁTANA DHARMA SUTRA, DE BHAGAVAN SRI NARAYANA, ensina que: “o atual estado de completa desunião entre o Espírito e a Matéria no ser humano resulta, profundamente agravado, da sobrecarga de conhecimentos que a condição da alma individual (Jiva) lhe impõe.”
Esclarece ainda que “os adeptos do conhecimento do Sanátana Dharma colocam de lado essa causa limitante, e logram sua completa liberação.”
No artigo em que discorre sobre Sanyasa e Tyaga, Sri Jarnadana esclarece: “... somente a teoria, a respeito de alguma coisa, torna-se inútil sem a prática, e vice-versa.”
Jesus, no seu Evangelho da Sabedoria Divina, ao concluir o Sermão da Montanha, ensina: “Aquele, pois, que ouve as minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.”(Mateus 7, 24-29).

Como se vê, existe uma necessidade absoluta de se conciliar o Conhecimento à Prática, visto que um sem o outro não produz bons frutos.
O Manual do Renunciante busca colocar nas mãos dos aspirantes os meios adequados para aquisição do verdadeiro conhecimento sobre o importante tema “Renúncia e Entrega”, (Sanyasa e Tyaga).


Parte II
A BASE TEÓRICA
O Conceito de Renúncia
O conceito de Renúncia tem sido objeto de muitas controvérsias. Na Índia, onde é conhecida como Sanyasa, difundiu-se, com grande vigor, o entendimento, defendido pela Escola Vedanta, segundo o qual Renúncia (Sanyasa) significa o completo abandono do Mundo e a dedicação do aspirante, com exclusividade, aos processos subjetivos da busca de comunhão com o Divino.

O Conceito de Renúncia no Bhagavad Gita
O Bhagavad Gita trouxe um novo significado para esse termo, ensinando que a Renúncia não se constitui do ato em si, está relacionada a seus frutos ou resultados, visto que a realização das ações nunca pode ser abandonada inteiramente(Gita XIX, 18)
De acordo com o Gita, o Verdadeiro Renunciante (Sanyasin) é aquele que realiza as ações necessárias e não está apegado aos seus frutos (Gita XIX,6).
Os aspirantes, “ainda quando atuando no processo do mundo, não encontram obstáculos que os impeçam de lograr a aproximação a Deus”. (Gita XXII, 25).

A Base Sintética do Funcionamento
Esse funcionamento, para ser realizado com êxito, exige que o aspirante tenha previamente conhecimentos de base sintética.
O conhecimento que inspirou a Escola Vedanta estava destituído dessa base. Para os Vedantas, Deus e o Mundo estão separados, e a opção por um, exclui o outro.
No enfoque de base sintética, o Mundo é a manifestação de Deus e ambos constituem uma Realidade Única.
De acordo com esse entendimento, o próprio Deus (Brahm) é quem opera, como Princípio Vital (Atma), como Matéria (Prakriti) e como Energia ou Força (Shakti). Esses são os três níveis de funcionamento do Universo, e é através do ser humano que esse processo se realiza.
O conhecimento sintético leva à União (Yoga), os outros, que não possuem essa base, conduzem à Separação. A Yoga é, em si mesma, uma aplicação prática do enfoque Sintético.
Não é possível que se realize devidamente qualquer açãosem o conhecimento correto. De todos os conhecimentos, o Sintético é o Supremo, porque facilita e direciona para Unidade.
O Bhagavad Gita é um tratado sobre a Ciência Sintética do Absoluto, ou “Yoga Brahma Vidya”, que apresenta uma exposição completa sobre Deus e o Mundo.
Nesse Livro, revela-se, através de método científico, que Tudo é Deus, que Tudo é da Natureza de Deus e que Tudo é necessário.
Os ensinamentos contidos no Gita apontam, precisamente, como transcender a tendência separatista da Escola Vedanta, e como inculcar a ideia da Unidade, que deve ser buscada, através de esforços de ordem espiritual e temporal.

A amplitude da Renúncia
A Renúncia (Sanyasa), que incide sobre o núcleo do “Eu” egocêntrico, não só se refere à ação física, mas a todas as demais esferas, como a intelectual, mental ou emocional.

A sintetização das Dualidades contrapostas
A Renúncia com tal amplitude só é possível acontecer quando se transcende primeiramente a ideia equivocada das dualidades contrapostas, sintetizando-as no Deus Único, que é a Origem de todas as manifestações.

A transcendência da Separatividade
Somente pode ser considerado um Renunciante, no verdadeiro sentido da palavra, aquele que transcendeu a Separatividade. Não importa qual seja seu estilo de vida, porque já não mais ambiciona os frutos da ação nem para si mesmo, nem para o outro.

Os frutos da Impessoalidade
O Renunciante, em virtude de haver sintetizado na Unidade as contraposições entre pensamentos, palavras e obras, e renunciado ao personalismo do “Eu” egocêntrico, exerce pleno controle sobre sua Mente Emocional, está livre do jugo da Cobiça e possui Intelecto Desapegado.
Essas conquistas transformam o aspirante num servidor impessoal do mundo; conduzem-no a um estado de completo desapego e o libertam do processo compulsivo de ações e reações.
Não se alcança essa liberdade negando-se a iniciar qualquer trabalho, nem tampouco se renunciando à ação que deve ser executada. Alcança-se neutralizando, em todas as ações, as preferências pessoais; de forma que, em qualquer ato que se execute, ou que se desista de executar, tenha-se a consciência de que não se é o autor. “Nada Faço, nem sou causa de que nada se faça”.

O Discernimento Sintético e a Renúncia
Para se alcançar, em todas as ações, essa postura mental, deve-se compreender corretamente a base sintética das manifestações duais, pois aquele que carece de discernimento sintético tem grande dificuldade de renunciar ao fruto da ação (Gita XIX,4).

O Estudo das Dualidades
É necessário, também, estudar e entender a composição essencial e a dinâmica das dualidades, não só em nosso corpo, como também no mundo. Esses dois aspectos constituem o Conhecimento Real e Verdadeiro.

O Processo da Renúncia e os seus efeitos sobre o Ego
A Renúncia funciona como um fator que dissolve o sentido de separação no ego do homem. Veja como isso ocorre.
As ações realizadas sem renúncia ao fruto criam vínculos (apegos) que ligam o Ego aos resultados. Os apegos alimentam e sustentam o sentido de Separação do Ego, já que ele imagina sinceramente que é o autor das ações, portanto pode se apropriar dos seus frutos.
Quando se começa a renunciar os resultados das ações, cessa-se a geração de novos vínculos (apegos), pois o influxo da Luz da Unidade, gerada pela Renúncia, enfraquece e desfaz, gradualmente, os vínculos (apegos) existentes.

A Entrega (Tyaga)
Com isso, o sentido de existência separada vai-se enfraquecendo até o ponto em que o Ego, passando a reconhecer a Sagrada Unidade da Vida, rende-se ao Grande Eu, aceitando-o como Mestre Divino, Governador Interno e Doador de Todo Bem.
O reconhecimento e a aceitação devem ser vistos como a própria Entrega, que é o resultado da unificação das multiplicidades contrapostas no Deus Único e em seu Poder (Shakti).
A Entrega ao Divino, que mora no Santuário do nosso coração, vai crescendo em amplitude, à medida em que aumenta o reconhecimento da Imanência Divina em todos os processos da vida.

Os graus de intensidade da manifestação Divina
Os graus de intensidade da manifestação do Deus Único, que reside dentro e fora de tudo, estão condicionados pela natureza da Energia (Shakti) e da Matéria (Prakriti)com as quais os seres humanos estão associados.
É dessa forma que se diferenciam, em progressiva ascendência, os graus de intensidade da manifestação do Deus Único, através daqueles que seguem o Caminho das Ações (Karma Yoga), o Caminho da Devoção (Bhakti Yoga) e o Caminho do Conhecimento (Gnana Yoga).
O ponto culminante dessa escala ascendente de realização divina ocorre no Plano Turya, o Quarto Plano, através daqueles que seguem o Caminho da Síntese (Atma Yoga), que logram o contato com a Divindade manifestada no seu aspecto pleno de Eterna Yoga (Paramatma).

Deus, o Ator Universal
Deus Pleno (Paramatma) é o Único Ator, o Desfrutador, o Criador, o Sustentador, o Mantenedor e o Convergidor de todas as coisas.No eterno processo do Mundo, não passamos de meros instrumentos, por meio dos quais as ações se concretizam.
Como, porém, só percebemos essa verdade de forma lenta e progressivamente, somos arrastados fatalmente pelo torvelinho do processo evolutivo mundial. “...Tu Savyasachin, procura ser meramente o agente externo de tudo isso.(Gita XII, 31).

Os elevados frutos da Renúncia e da Entrega
Mediante a Renúncia e a Entrega alcança-se o Purusha, que é o Aspecto Imanifestado, em eterna Yoga (Unidade) e o mais elevado da Divindade, inclusive superior a Sat Chit Ananda (Verdade, Inteligência, Bem-Aventurança).
A Renúncia e a Entrega são extremamente importantes, não só para as etapas superiores do Yoga, mas também para nossa vida diária, já que nos coloca em sintonia com as Leis Divinas, que regem o funcionamento do Universo.

A natureza do aspirante que desenvolveu a Renúncia
A natureza do Aspirante dedicado à Senda da Ação, que chegou a desenvolver plenamente a Renúncia (Sanyasa) e a Entrega (Tyaga) é descrita no Bhagavad Gita da seguinte forma: “Aquele que os Videntes (De visão sutil, que veem os Tatwas) reconhecem como o Princípio Átmico, associado com a matéria, manifestando-se como causa e efeito, esse sou Eu, o Morador Interno, sem princípio, meio nem fim”(Gita II,6).
O Renunciante adora o Supremo Deus como a Divina Imanência (Antaryami), que mantém unidos todos os seres, como estão as contas de um rosário (Gita XII,7).

As cinco causas das ações que governam os seres humanos e o mundo
Embora seja a Causa Total, o Supremo Deus manifesta-se como as Cinco Causas que governam os seres humanos e o Mundo.

1ª Causa - O Espírito Santo Universal(Atma).
A Causa Espiritual é a principal de todas as ações humanas. Na verdade, Deus é Ator Universal, que age através de suas criaturas. A Sua Santa Presença é que sustenta e dá Vida a todos os Seres. É Ele a Inteligência e a Consciência por trás de todas as Mentes e Intelectos.
É quem percebe através de todos os Sentidos, e sente através de todas as Emoções. É Quem vê através de todos os olhos, e escuta através de todos os ouvidos. Ele é a Grande Vida que, embora Una e Indivisível, atua como se fosse múltipla e separada.
2ª Causa - Os Corpos Físico e sutis.
Essa é a Causa Material e a base através da qual se realizam as ações. Nos minúsculos e sutis átomos desses corpos estão armazenadas as energias que contêm a programação do Karma individual, e onde se encontram presentes alguns comandos energéticos que influenciam poderosamente as nossas ações na vida presente. Aí também estão guardadas as sementes de todas as nossas emoções, cargas e condicionamentos.
3ª Causa – O Aspirante, o Desejo ou Vontade.
O Desejo é uma das Energias Divinas responsáveis pelo funcionamento dos seres humanos no processo do mundo. Sri Janardana ensina que “Karta, o atuante, se equipara ao Desejo ou Vontade (Iccha), tendo em vista o fato de que todo Ser Individual é primeiramente Energia Desejo, ou, se assim, o preferir, um Desejo Ativo.”
4ª Causa - Conhecimento (Gnana).
A exemplo do Desejo, o Conhecimento é uma das três Energias Divinas responsáveis pelo funcionamento dos seres humanos. É elemento fundamental na realização de qualquer ação. Sem o necessário conhecimento nenhum ato pode ser realizado perfeitamente.
5ª Causa – Ação ou Atividade (Kriya)
Ação ou Atividade é também uma Energia Divina responsável pelo funcionamento dos seres humanos.
Das cinco causas das ações humanas, o Espirito Santo Universal (Atma) representa o Aspecto Espiritual. Os Corpos (físico e sutis) representam o Aspecto Material. O Aspecto da Energia está representado pela Stri-Shakti (Energia tríplice), a Energia feminina do Conhecimento, do Desejo e da Ação.

Deus, o verdadeiro Ator Universal
Na verdade, Deus é o Ator Universal que, através dos seus dois corpos, o Espiritual (Atma) e o Material (Prakriti), e da Sua Divina Energia a Brahma-Shakti, sob a forma de Stri Shakti,( a Energia do Conhecimento ou Gnana-Shakti; a Energia do Desejo ou Iccha-Shakti e a Energia da Ação ou Kriya-Shakti), realiza todas as ações.

O Sinal do Renunciante
O verdadeiro Renunciante é aquele que, compreendendo a base sintética de todas as ações, atua no processo do mundo como mero instrumento externo da Divina Providência.


Parte III
Regras para serem colocadas em Prática

Neutralização das preferências pessoais
Sem preferências pessoais, dotado com discernimento sintético, havendo transcendido as dualidades e estando completamente entregue à Vontade Divina, o Renunciante, que conquistou a verdadeira liberdade, nada o aborrece, nem nada deseja, pois está sempre pronto para realizar, com amor e dedicação, todos os atos necessários. (Gita, XIX, 3).

Realização de todas as ações necessárias
O verdadeiro Renunciante reconhece, não só a obrigação de realizar todos os atos que correspondem aos seus deveres legítimos (necessários), como também percebe a necessidade absoluta de omitir as ações desnecessárias e ilegítimas, discernindo entre a escravidão gerada pelo medo, e a liberação obtida mediante a coragem. (Gita XI,7).
Ele não repudia a execução dos atos necessários, nem deseja abandonar o cumprimento dessas ações. (Gita XIII, 21).

A desistência das ações físicas.
As ações humanas são físicas, mentais ou emocionais e intelectuais. O ato físico corresponde a apenas uma parte da esfera de abrangência dessas ações. Daí porque a simples desistência da ação física não configura a plenitude da Renúncia. Quem desiste da ação física, portanto, nunca poderá ser um verdadeiro Renunciante (Gita XIX, 6).

Dedicação apenas à Purificação dos sentidos, da Mente e do Intelecto.
Há pessoas que, esquecidas de que vivem num mundo da ação, dedicam-se, com exclusividade, ao processo de purificação das atividades do Intelecto, da Mente emocional e dos sentidos, imaginando equivocadamente que esse caminho, tingido de egoísmo, conduz à realização.(Gita XIX,6)
“Só pode conhecer o eterno processo do mundo o aspirante profundamente compreensivo, carente de toda perspectiva egoísta, mediante o completo desapego” (Renúncia e Entrega). Logo, por meio desse conhecimento, a Busca Suprema deve ser intentada”.(Gita VII, 12-13).

A Busca do Discernimento Sintético (Bhávana)
O primeiro passo para o avanço, com êxito, na Senda do Divino é, sem dúvida, a Renúncia (Sanyasa) e a Entrega (Tyaga). Aqueles que não possuem discernimento sintético dificilmente conseguem alcançar o estado de Renunciante. O sábio que possui tal discernimento, logo adquire Bem-Aventurança Divina (Gita XIX, 4).
O Renunciante, compreendendo que Tudo é Deus, que Tudo é da Natureza de Deus e que Tudo é necessário, ainda que esteja envolvido com as ações, não sucumbe escravizado por elas. Ele está consciente da sua condição de instrumento externo das Ações e da Verdade de que Deus é o Ator Universal. (Gita XIX,5).

Abandono do Egoísmo e das ideações da personalidade
O egoísmo e a formação de ideias com base na personalidade separada são obstáculos para se alcançar a Renúncia. Há, portanto, absoluta necessidade de se abandonar essas posturas que limitam o campo da ação humana. Sem isso, ninguém pode se converter em Renunciante (Gita XIX, 7).

Apego às ações que geram prazeres aos sentidos
O Renunciante Perfeito é aquele que não está apegado às ações que proporcionam prazeres aos sentidos (Gita XIX,8).
Ele está consciente de que “as experiências que resultam do contato com os objetos dos sentidos são geradoras de sofrimento, porque estão limitadas a um princípio e a um fim. Daí porque ele não se deleita com elas” Gita (XVI, 24).

Abandono do Desejo Passional
O desejo é uma Energia Divina que desempenha papel fundamental no processo do mundo. Quando, porém, ele é originário da paixão traz consigo uma força cega e descontrolada, que conduz o aspirante a experiências de dor e sofrimento.
Para se alcançar a perfeição na senda da Renúncia, portanto, é necessário abandonar todo desejo decorrente da paixão (Gita XIX,8).

Omissão das ações necessárias
A omissão das ações necessárias nunca é aprovada. Sem a execução desses atos desinteressados, o curso da vida, no evolucionário processo do mundo, nunca será totalmente cumprido. (Gita XXII,24).
O Renunciante sabe que, quando não se executam as ações devido a carência de discernimento espiritual (Átmico), a omissão atrai, para seus corpos, átomos e moléculas de energia da obscuridade e da inércia (Tamásicos); dificultando, assim, o seu progresso no caminho da Busca Suprema. (Gita XIX,14).
De igual modo, tem consciência de que a omissão dos atos necessários, devido as dificuldades, ou por temor ao esforço físico, também atrai átomos e moléculas de natureza agitada (Rajásicos) (Gita XIX,15).
Abandono da realização das ações
A realização das ações nunca pode ser abandonada inteiramente. Aquele que renuncia ao fruto das ações necessárias é considerado o Verdadeiro Renunciante. (Gita XIX, 18).

A sedução dos Sentidos
As ações que realizamos na vida, ora se apresentam como agradáveis, ora como desagradáveis.
As dualidades do agradável e do desagradável residem nos sentidos, que tomam contato com os objetos que os impressionam.
Como a natureza dos nossos sentidos físicos é a dualidade, quando eles entram em contato com qualquer objeto, desperta-se um gosto, ou um desgosto, relacionado àquele objeto.
Quando, por exemplo, ouvimos uma música (sentido da audição), imediatamente, gostamos ou não gostamos dela. Saboreamos um alimento (sentido do paladar), e reagimos da mesma forma. Olhamos para alguma coisa, achamos, ou não, bonita. É da natureza dos sentidos, portanto, pender para um, ou outro lado das dualidades.
Os sentidos, buscando sempre o lado agradável das coisas, conquistam o Ego, que quase sempre sucumbe à sedução do prazer, esquecendo-se do que é bom e necessário para sua felicidade e evolução: As Ações Necessárias.
O aspirante, portanto, deve tomar cuidados para não se render à sedução dos sentidos, nem se desviar do caminho da verdadeira ação.
Assim, ele nunca deve deixar de executar as ações, só porque estas, junto com seus frutos, são desagradáveis; nem também deve realizá-las somente, porque são agradáveis, sem levar em conta a sua real necessidade e utilidade. (Gita XIX,17).

A influência dos aspectos agradáveis ou desagradáveis das Ações.
Os Verdadeiros Renunciantes não cedem à influência das dualidades agradáveis ou desagradáveis, porque sabem que ambas, quando evoluem para paixão pessoal, confundem a visão do caminho, direcionando para a execução de ações incorretas. (Gita XIX,20).
O conhecimento da verdadeira ação é obscurecido pela influência das paixões pessoais, que consomem o entendimento, até o do aspirante inteligente, sendo consideradas, juntamente com a ira, como os mais perniciosos e destrutivos inimigos do aspirante que busca o Ideal Divino. (Gita XIX, 22-23)
As paixões pessoais e a ira tem campo de operação nos sentidos, na Mente e no Intelecto, influenciando-os.
São elas que obscurecem o discernimento espiritual e confundem o aspirante. (Gita XIX, 24).

A Direção espiritual dos sentidos
Dirigir espiritualmente os sentidos, para transcender a paixão, que obstrui a inteligência e o conhecimento. (Gita XIX,25).

Realização de ações impessoais
“A consequência da ação impessoal (Satwica) é harmoniosa e iluminativa. (Gita XVIII, 3).

Ações incorretas
As ações executadas com apego a seus frutos, egoisticamente e com violência (Rajásica) têm como consequência a dor. (Gita XVIII, 3)
As ações iniciadas sem discernimento espiritual, sem ter em conta o esforço necessário para realizá-las, e sem preocupação com a natureza do resultado, causam danos e perdas ao mundo (Tamásicas), e têm como consequência a ignorância do discernimento espiritual.
(Gita X,15, e XVIII, 3)

Realização de Sacrifícios (Yagnas), de Caridade (Dana) e de Austeridades (Tapas)
O verdadeiro Renunciante é aquele que, rendido à Vontade Divina, sem preferências pessoais, está completamente devotado à realização das ações necessárias, com vistas ao progresso e bem-estar da humanidade.
Nessa condição, ocupa-se com a execução das ações necessárias conhecidas como Sacrifício (Yagna), Caridade (Dana) e Austeridade (Tapas).

Realização de Sacrifícios sem desejar seus frutos
Sacrifício é um ato oferecido à Divindade. Ele pode ser físico, mental ou intelectual. Deve ser executado sem desejar fruto algum como recompensa e porque sua execução é justamente necessária. (Gita IX,11).

Realização da Caridade com discernimento Atmico
Caridade é doar algo a alguém, mas é, sobretudo, oferecer-se integralmente ao Divino no Santuário do próprio coração.
No ato de doar algo, deve-se fazer sem o propósito de se obter qualquer tipo de retribuição ou benefício e com o devido discernimento, quanto à oportunidade, ao lugar e à conveniência. (Gita IX, 20).

Realização das austeridades desinteressadamente
Austeridade é a atuação coordenada das três faculdades: do conhecimento, do desejo e da ação.
Elas devem ser realizadas sem qualquer interesse no resultado, evitando-se realizá-la de forma ostensiva, para angariar reconhecimento, respeito e estima. (Gita IX, 17-18).
As Austeridades do corpo
Reverenciara si próprio, ao Mestre (Guru), aos Iniciados e aos Videntes (De visão sutil que veem os Tatwas) Praticar a Limpeza, a Retidão nas Ações, a Continência e a profunda Humildade. (Gita IX, 14).

Austeridades da Palavra
Falar numa linguagem inofensiva, que deve ser verídica, doce e benéfica. Realizar, de forma continuada, o estudo da Ciência Adhyatmica. (Gita IX, 15).

Austeridades da Mente
Manter a Serenidade de Pensamento, o Contentamento, a Calma, a Vigilância Mental e a Pureza de Intenção. (Gita IX, 16).

Realização dos atos necessários com desapego
Realizar todas essas ações necessárias desapegadamente e sem desejar os seus frutos, porque elas purificam seus veículos e geram energias divinas para sua felicidade. (Gita XIX,12).

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